A Descontinuação de Matrix*
NÃO LEIA SE NÃO VIU OU NÃO QUER SABER SOBRE O FILME!!
Imagine:
Um passeio ao pôr-do-sol.
Um jantar romântico.
A vitória do seu time predileto.
O choro de um bebê.
Uma ilusão que gera uma rebelião.
Milhares de máquinas bélicas correndo contra o tempo para acabar com tudo isso.
A idéia pode parecer inverossímil, mas é a base do mais novo sucesso mundial de cinema: Matrix Reloaded, a segunda parte da trilogia dos irmãos Wachowski. O que parecia impossível aconteceu, já que os diretores expandiram e aprofundaram o mundo por eles apresentado ao mundo em 1999. A Matrix deixa de ser um programa de dominação para ganhar status de super estrutura que controla não só a vida dos humanos aprisionados em seus casulos gosmentos mas também as decisões de toda raça, incluindo os membros da resistência em Zion.
O herói vacilante e indeciso do primeiro filme Neo (Keanu Reeves) desapareceu completamente em meio a uma atuação firme e marcante do ator. Neo deixou de ser o salvador apenas para Morpheus (Laurence Fishburne) e passou a ser cultuado por boa parte da população humana de Zion. A cidade, por sua vez, mostra-se gigantesca e reduto de todas as raças e credos da nossa sociedade. A própria natureza dos “rebeldes” muda de enfoque, já que a produção mostra sua estrutura militar e social, afinal de contas, eles participam de uma guerra permanente.
O público é apresentado a uma frota de naves idênticas à Nabucodonosor, todas parte integrante do complexo sistema de defesa de Zion, cada vez mais comprometido pela vigilância das Máquinas. Os líderes humanos também ganham espaço em cenas de sabedoria e inspiração pública, dons necessários àqueles que lidam com o destino de muitas vidas.
Mas é dentro da Matrix que as maiores revoluções e cenas fantásticas acontecem. Ali dentro, Neo está no comando. O que ele fez no primeiro filme parece brincadeira de criança perto de seu desempenho. Super-homem que se cuide. Nenhum dos agentes é capaz de detê-lo e sua compreensão do sistema atinge patamares inimaginados por qualquer humano, conectado ou não. Ele antecipa movimentos, derrota as defesas e torna-se, de vez, o pivô do destino da Humanidade e, pasmem, da própria Matrix.
Oportunismo, ou não, Matrix Reloaded inclui um novo elemento a este universo: a interdependência entre Máquinas e a Humanidade. E é esse o grande ponto do roteiro, que recebeu várias críticas negativas por sua complexidade e compactação. Ao contrário do que muitos jornalistas dizem, o lado filosófico e de conteúdo de Matrix não diminuiu em relação ao primeiro filme, só aumentou e melhorou. O que pode ter faltado é visão global da obra dos irmãos. As cenas de ação são grandiosas e, com raras exceções, perfeitas. A grande diferença entre um filme e outro é a maneira como a “filosofia” foi transmitida. No primeiro filme, Morpheus e o Oráculo contam a história a Neo e passam algumas das respostas. Desta vez, porém, ele tem de decidir por conta própria e entender tudo sem muita ajuda, já que seu “cargo de salvador” o responsabiliza por tudo que pode, ou não, acontecer.
Vários personagens alertam Neo sobre a dependência de ambas as “espécies” e que a extinção de uma delas causaria a inevitável queda da outra. Porém, poucos são os que acreditam em tal conceito e, como qualquer minoria pacifista da História, são frustrados em sua tarefa. Com isso, cabe a Neo interpretar essa situação e tomar a atitude correta.
A vitória de Neo sobre o poderoso Agente Smith (Hugo Weaving) dava pinta de ter iniciado a derrocada da Matrix, mas ele era apenas uma peça no quebra-cabeça e só provocou melhorias no sistema de defesa. Esse combate, porém, não foi definitivamente e Smith retorna com força total e como um verdadeiro coringa, já que ele não mais pertence ao sistema da Matrix, mas vive dentro dele e com novos poderes, que o transformam num grande inimigo – para ambos os lados.
A ação ganhou muito espaço e novos personagens dividem a cena com Neo. Entre eles estão os já conhecidos Morpheus, muito mais sério e obstinado com a realização da profecia; Trinity, sensual e mortal em suas cenas de combate; e novos inimigos como Os Gêmeos, antigos programas da Matrix que foram baseados em filmes de terror. Os dois são fantasmas letais e deveras inteligentes. Sua participação culmina com uma magnífica perseguição de carros numa auto-estrada construída especialmente para o filme.
Outra dupla que merece atenção é o Oráculo e o Arquiteto. Embora a simpática Oráculo ajude os humanos, ela nada mais é do que um dos programas primordiais da Matrix. Rebelde. E capaz de entender o verdadeiro funcionamento das duas espécies. O Arquiteto, por sua vez, é o comando central do sistema, um programa orgulhoso por sua criação e necessariamente frio para bombardear Neo com anos e anos de evolução de história e com revelações surpreendentes. Essa cena foi muito criticada, mas deve ser vista com olhos atentos.
Matrix Reloaded mistura ação, ótimo roteiro e efeitos de ponta numa das melhores continuações cinematográficas de todos os tempos. O filme só tem um defeito: terminar e deixar a todos com água na boca para sua última parte, Matrix Revolutions. Mas tudo bem, no segundo semestre tem mais.
*título descaradamente roubado do post do Alfredo.
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