Ensinamentos
Muito versátil era Beregond. Conhecido por suas belas palavras e paixão no ato de contar qualquer história, certa vez, a líder de uma vila distante pediu ao jovem que ao seu povo ensinasse em troca de comida e abrigo. Foi com surpresa que a proposta alcançou os ouvidos de nosso herói, já que era inesperada a hora. Momentos difíceis eram aqueles e a tempestade estava cada vez mais próxima para tudo e todos. 
Ensinar, porém, nunca havia sido o sonho de Beregond e pouco sabia tão nobre tarefa. Então, não perdeu tempo. Montado em seu fiel Dreamer, um belo corcel avelã, ele partiu em busca do conselho de sábios. Foi acolhido por Semm, um profundo conhecedor do ofício, que o instruiu, tomou-o como discípulo e colocou suas habilidades à prova. 
Por ter adquirido tal habilidade, Beregond logo se esqueceu de suas doces palavras e de todas as aventuras que desejava viver. Com tal sentimento partiu também Dreamer, que levou sua amizade e parece ter privado seu jovem companheiro de seus mais grandiosos sonhos e desejos. 
A abrigo e a comida oferecida pelo povo do vilarejo eram bons, mas parte do espírito de Beregond parecia ter ficado para trás e, rapidamente, sua natureza indomável foi apagando-se, perdendo a força e se esvaindo, mesmo que ele tentasse usar suas antigas artimanhas para agradar seus discípulos e, sem dúvida, a si mesmo. Tudo parecia em vão e ele assistiu a um vagaroso surgimento de uma nova vida. E era a sua própria vida, que tomava novos rumos.
Rapidamente, ficou conhecido como Beregond, o Sábio. Dividia seu conhecimento com aqueles que o procuravam, tanto em sua vila quanto nos vilarejos próximos e, com isso, passava muito tempo viajando por estradas solitárias e pouco agradáveis. Enquanto viajava, lembrava-se de seus passeios pelo bosque, das noites na grama e dos passeios e mãos dadas com seu amor. De vez em quando ele fazia alguma destas coisas, mas seu espírito não as recebia com tanta vontade e felicidade.
A escolha foi difícil, mas esqueceu-se de vez de sua vida anterior, e mergulhou de corpo e espírito no ofício do ensinamento. Solitário e árduo foi o caminho, mas, como todos os outros, Beregond o trilhou como tinha que ser feito. Viu muitas conquistas e sorriu, mas sem o mesmo brilho que uma simples poesia causaria antigamente. Sentiu muitas derrotas, e chorou por cada uma delas como se uma vida inteira tivesse sido perdida. E simplesmente viveu e lutou por anos e anos, abriu mão de seus sonhos e era durante as noites frias, em sua pequena cabana na floresta, que lembrava de sua juventude e do tempo em que suas palavras emocionavam, tocavam e despertavam. A todos e a ele mesmo.
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