domingo, abril 24, 2005

O Contar dos Anos

Vivemos à sombra do contar dos anos. Anos anuviados marcam o princípio. Crescemos embalados por meses acelerados. Seguidos por tempos de pensar, pesar. Ofício.

Cada ano, porém, é apenas um ano. Medido cartesianamente por segundos, horas, dias, meses. Enfim, um ano é um ano. Finito. Invenção abstrata e intransponível do homem para medir sua vida. E morte.

Desde cedo, aprendemos sobre o tempo e os anos. O início e o fim. E vamos vivendo. Ano após ano. Na contagem ininterrupta das horas. Do tempo. Em direção à morte. Ou a outra vida.

Pelo contar dos anos, estamos presos e condenados. É uma conta que nunca pára. Nunca muda. Nunca. Será?

Na medida oficial de nossa vida são os números absolutos que comandam a evolução. Experiência. Saber, ou não. Entretanto, medida tão inexorável quanto esta afeta desta maneira apenas àqueles que vêem a vida passar. E contam. Até a morte. Simples assim.

Deveria haver muito orgulho em dizer, contra todos os parâmetros, que se tem 300 anos e não 20. Sanatório? Quem sabe.

Se pensarmos todos no que se vive dentro de um reles ano. Que condensa todas as horas. E também compacta, guarda e espreme milhares de risadas, alegrias, tristezas, conquistas, derrotas e tantos outros momentos. Ah, momento. Tão breve, tão belo. Trivial. Para os tolos.

Poucos acreditariam, ou entenderiam, na beleza de se viver 100 vidas num único e reles ano. Milhares de existências num período, por definição finito, portanto, cerrado. Inexpugnável.

Em 5 anos, vivi infinitas existências. Nascimento, vida e morte. Ininterruptamente. Ao te olhar, um novo ser surgia, te idolatrava pelo tempo que tinha que ser. Atingia sua plenitude. Razão. Propósito.

E fenecia. Tornava-se conhecimento. História. Para um novo renascimento.
Um ciclo movido pelo amor inexplicável. Turbilhão de sentimentos nutridos por ti. Pelo teu simples sorriso. Simplicidade cativante.

Uma vez por ano. O contar dos anos nos confronta. Regras. Sempre regras. No fim das contas, adicionamos um singelo 1 à conta. Número tão básico da existência, que aliado a tantos outros de seus iguais forma o conjunto. O tempo passa.

Toda a alegria vivida. Todo o conhecimento adquirido. Tudo que se pensou, fez, ou deixou de fazer ganha forma numérica. E de 1 em 1 o contar dos anos nos amarra. Apaga. Esquece. Talvez.

Como um arquivo de computador. Baseado em 0 e 1. Lá está nossa vida. Esquecida para quem não liga. Bem guardada para quem enxerga. Escolha.

É dentro desta Caixa de Pandora que se encerra tua razão. Mito? Verdade. Explore-a. Viva milhares de vidas num segundo. Transforme centenas de anos numa vida. Dobre o tempo à sua vontade. Livre arbítrio.

Paixão. Amor. E a vontade de viver. Pura existência.

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Feliz Aniversário, Doce Gilwen!

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